domingo, 10 de setembro de 2006















Ilsan Vianna

Fátima Camargo

"Meu primeiro encontro com a alta-costura aconteceu na Casa Vogue, em São Paulo. Rapidamente notei a diferença entre os modelos e os vestidos confeccionados aqui, mesmo em boas costureiras. Logo resolvi que era deles que eu gostava. Meu vestido de casamento civil foi um Dior tomara-que-caia, todo bordado, superleve, lindo.
A primeira vez que fui a Paris comecei com visitas de turista e deixei para conhecer “A Moda” com calma. Casei-me, conheci Hubert de Givenchy em um almoço no Rio. Daí começou nossa amizade.
Tony e eu viajávamos bastante, o que me permitiu conhecer bem a alta-costura e firmar meu estilo -o que sempre achei mais importante. Ser bem-vestida é um departamento, ser elegante é outro.
Assistir aos desfiles da haute couture era o máximo e tinha um ritual, a começar pela clientela: íamos tão emperequetadas como se fôssemos desfilar. Era tudo orquestrado como uma grande festa, mesmo quando os desfiles de Saint Laurent ainda eram na maison da Rue Spontini e os de Givenchy na Avenue George V. 
Ao chegar, a sua “vendeuse” entregava o programa do desfile para marcar os números de sua escolha. Na primeira fila ficavam a primeira-dama da França, os mais importantes jornalistas de moda, as superstars do cinema e as “supertops”, privilegiadas da sociedade. Sentados no chão, mil fotógrafos, disparando os seus flashes. Com o tempo, os grandes desfiles passaram a ser nos ricos salões dos hotéis. 
O desfile começava - sempre na hora exata -, as conversas paravam. Era tratar de prestar atenção e anotar os números. Quando terminava, cada uma entregava seu programa para a sua “vendeuse” que marcava a hora para o dia seguinte.
Ao chegar, os vestidos anotados já estavam em uma cabine para você provar e ver os que queria. Nunca fui consumista, assim escolhia rapidamente o necessário. 
Minhas roupas sempre foram muito bem cuidadas e sempre usei inúmeras vezes os mesmos vestidos. Como estava sempre viajando, eles passavam por Londres, Roma, Rio, Nova York e Paris, onde tínhamos um apartamento bem lindo.
Na coleção de YSL de 1968, encomendei seus dois grandes lançamentos: um smoking preto, blusa de musseline completamente transparente preta e todos os acessórios, cinto de cetim e pochete em renda; e um terno risca-de-giz, com camisa cinza de crepe cetim, cinto de crocodilo e pochete combinando. Eles se tornaram os básicos do meu armário.
Quase tudo que aprendi sobre moda foi com Hubert, que sempre assistia à minha prova e me ensinou a medida exata da proporção. Ele me ensinou que, mesmo com meu corpo privilegiado, eu nunca deveria usar roupa apertada.
Essa vida com tudo lindo só era possível caso você fosse casada e seu marido gostasse da mulher sempre impecável.
O mundo mudou tanto que às vezes duvido do que vi e vivi, tantas coisas e países, tudo tão diferente de hoje. Não só o Brasil mudou, todos os grandes países tiveram de se acertar em um novo mundo, com terrorismo, violência e miséria.
Nesses últimos anos aprendi a conhecer e a me interessar pela moda brasileira. No Brasil não existe modelo alta-costura, pois obrigatoriamente são confeccionados para você, com suas medidas. 
Quando quero uma roupa nova para a noite, encomendo na maison Liliane ou com meu amigo Guilherme Guimarães. Quando quero uma roupa bem diferente é o Lino Villaventura que faz pra mim. É divertido: telefono, explico o que quero e ele manda os desenhos por fax. E, sem prova, as roupas chegam certinhas". 

 Carmen Mayrink Veiga

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